Estávamos presos naquela escura e fria caverna. Talvez aquela viagem não tivesse sido uma boa ideia, no fim…
Você se sentou na areia, abraçando os joelhos, tremendo de frio – ou medo, talvez. A chuva aumentava a cada minuto, não dando sinais de que iria para tão cedo.
“Parece que vamos ficar aqui por um tempo…”, eu disse, tentando quebrar o silêncio que existia entre nós. Como não obtive resposta, continuei “Mas poderia ser pior, não é? Você poderia estar aqui com o Shima-kun.”, brinquei.
Você riu, e isso me acalmou um pouco.
Sentei-me ao seu lado e segurei sua mão, gelada e trêmula, tentando esquenta-la. Não que fosse adiantar muita coisa, já que as minhas também estavam frias.
Sem pensar muito, coloquei meus braços ao seu redor, para que nos mantivessemos um pouco mais aquecidos, e quando você recostou sua cabeça no meu ombro, sem perceber, um sorriso se desenhou em meu rosto. Você se aproximou um pouco mais e suspirou.
“Confortável?”, falei, novamente sem pensar.
“Muito.”, respondeu depois de rir timidamente.
Depois de um tempo, percebi que você adormeceu. Fiquei um tempo olhando seu rosto, e pensei que se você acordasse naquele momento iria achar aquilo muito estranho. Então desviei o olhar, mas logo voltei ao ponto de partida. Havia algo em você que me atraía de uma forma inexplicável. Não apenas sua aparência, mas o modo como falava, como via o mundo, como interagia com as pessoas…tudo em você era misteriosamente apaixonante…
Aquela era a primeira vez que estava tão perto de você. Não queria que acabasse. Queria ficar ali, naquele abraço, para sempre, mesmo que isso significasse ficar preso ali. Pensei isso, mas percebi o quão egoísta e idiota aquilo soava.
Eu estava feliz. De verdade. Não por estar preso em uma caverna no meio de sei-lá-onde, com frio e cansado (não tem como ficar feliz com isso), mas por estar preso em uma caverna no meio de sei-lá-onde com você. Eu sabia que depois que saíssemos dali, tudo voltaria ao normal, por isso queria aproveitar aquele momento.
Acabei adormecendo, e só acordei quando a luz do sol atingiu meu rosto, ofuscando minha visão quando tentei abrir os olhos. Olhei para o lado, esquivando-me daquela armadilha e não pude deixar de sorrir ao ver você, ainda dormindo.
Por algum motivo, dei-lhe um beijo na bochecha. Aparentemente, meu cérebro achou que isso seria muito interessante. Você se mexeu, abriu os olhos lentamente e se endireitou. Tentei agir como se nada tivesse acontecido, e não sei se você resolveu fazer o mesmo, mas apenas sorriu e apontou para fora.
“Parece que já podemos voltar!”, exclamou, se levantando.
Como eu imaginava. No momento em que a tempestade fosse embora, levaria consigo aquele momento…
Caminhamos para fora. O sol iluminava a areia dourada, as ondas quebravam gentilmente na praia, as nuvens pareciam dançar no céu azul. Voltamos para a pousada e fomos recebidos pelos nossos amigos com uma mistura de alegria e preocupação, e levamos uma bronca da Nana-san.
“Vocês sabem o quão preocupada eu fiquei? Vocês poderiam ter se machucado! Ou morrido! Vocês não podem sair correndo desse jeito! Nunca mais façam algo tão irresponsável!!! Prometam!!!”
Passamos nosso último dia da viagem presos naquela caverna. Se eu estivesse com qualquer outra pessoa, diria que foi um desperdício.
Voltamos para o quarto para arrumarmos as malas. Quando terminei, sentei-me na beirada da janela, sentindo o vento bagunçar meus cabelos e o sol esquentar minhas mãos.
“Yo!”, ouvi alguém chamar, e quase cai para frente quando senti cócegas.
Você me olhava rindo.
“Se eu tivesse caído a culpa seria toda sua!”, brinquei, já que estávamos no primeiro andar da casa.
“Me desculpa!”, você retribuiu a brincadeira e se sentou do meu lado “Apesar de tudo que aconteceu, me diverti muito nessa viagem!”
Apenas sorri e concordei com a cabeça.
“Ne…aquela tempestade nos pegou desprevenidos. Se eu soubesse que ela viria, não teria corrido.”
Senti uma pontada no peito. Não sei porque criei expectativas. Era óbvio que você não tinha gostado de ficar naquele lugar…
“Arigatou!”
Fiquei em silêncio, porque não sabia sobre o que você falava. Parece que você entendeu minha expressão de dúvida.
“Por ter me acalmado e não me deixado morrer.”, você riu.
“Ah…fiz o que tinha de fazer ne. Só estou feliz que você esteja bem.”
Ficamos em silêncio.
“Se…”, você quebrou o silêncio “…eu tivesse que passar por aquilo de novo, não mudaria nada.”
Eu ri, mas depois pensei melhor no que você havia dito.
“O que você…”, comecei, mas parei quando, repentinamente, você me deu um beijo na bochecha.
“Ei! Peguem suas coisas! Vamos partir daqui a pouco!”, Nana chamava ao longe.
“Agora estamos quites!”, você disse rindo enquanto corria para a frente da casa.
Eu estava paralisado. Não só pelo beijo, mas também pelas suas últimas palavras. Fui invadido por uma felicidade sem tamanho e comecei a sorrir.
“Não vou chamar de novo! Se eu tiver que ir até aí, você morre!”
Olhei mais uma vez para o céu azul antes de correr para o carro com um sorriso bobo estampado no rosto.
Aquele foi o começo de algo que mudaria minha vida completamente…